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Petróleo e Sociedade

Posted by Ângelo S. Arkell on October 6, 2010

Petróleo e EconomiaA importância do petróleo na sociedade atual é enorme, irrefutável. Todos o sabem, é alardeado em jornais e livros escolares de geografia. Os benefícios como transporte, energia, aquecimento, produtos plásticos e petroquímicos permitem à nossa sociedade um modo de vida que de outra forma não seria possível, e é até pelos mais ingênuos percebido.

Mas, apesar de toda a importância que é dada e de toda a informação de que a sociedade dispõe sobre este precioso recurso natural, numa análise mais profunda, vê-se que ainda assim sua importância e sua influência sobre nossa sociedade, sobre nosso modo de vida e suas implicações econômicas são largamente subestimadas. Isto é, apesar de estar clara a importância enorme do petróleo na nossa sociedade, ela é ainda muito maior do que o que é percebido normalmente.

Usos do Petróleo

O petróleo é utilizado em nossa sociedade para diversos fins e modelam, em grande parte, nosso modo de vida, nossos costumes, nossa cultura. As mudanças são profundas e substanciais, a ponto tal que talvez mais da metade das atividades cotidianas e corriqueiras não seriam possíveis ou viáveis sem o uso de petróleo. Desde embalagens plásticas, produtos farmacêuticos e até combustível para nossos veículos necessitam do petróleo. Em alguns casos há substitutos, como o álcool da cana de açúcar ou energia elétrica por geradores termo-nucleares, mas na maioria dos casos uma substituição do petróleo é bastante complicada, se não impossível.

Seguem alguns dos usos do petróleo em nossa vida cotidiana:

  • Produtos Plásticos – brinquedos, peças automotivas, eletrodomésticos, materiais de construção, copos e pratos descartáveis
  • Embalagens Plásticas – embalagens de alimentos, roupas, produtos de consumo em geral, produtos e sub-produtos industriais
  • Produtos Petroquímicos – gases, graxas, óleos, solventes, asfalto, fertilizantes, além dos subprodutos do petróleo consumidos no processo de seu próprio refino. Isto em adição à matéria-prima para os produtos e embalagens pláticos listados acima
  • Processos industriais – muitos processos industriais dependem do calor ou de reações químicas utilizando petróleo ou seus subprodutos, como aquecimento de caldeira, solda, tratamentos térmicos
  • Transportes – carros, motos, caminhões, aviões, navios e trens, em sua grande maioria, utilizam-se da queima do petróleo para poderem exercer sua função-transporte
  • Aquecimento – preparação de alimentos e, em diversos países, utilização de grande quantidade de petróleo para garantir aquecimento de residências e instalações comerciais e industriais
  • Energia – grande parte da energia elétrica consumida no mundo provém da queima do petróleo

A importância do petróleo em nossas vidas é inquestionável.

Entretanto, o petróleo é um recurso não-renovável e, portanto, mais cedo ou mais tarde a sociedade precisará encontrar uma alternativa ao uso do petróleo ou repensar seu modo de vida.

Estimativa de disponibilidade de Petróleo

Petróleo é um recurso natural não renovável e relativamente escasso; escasso porque, apesar de ser abundante o suficiente para atender largamente a demanda atual, nos níveis de consumo da nossa sociedade, essa imensa quantidade de petróleo ainda não explorada parece insuficiente para mais 100 anos de sociedade humana.

Disponibilidade de Petróleo

Abaixo é apresentado o consumo de petróleo de alguns países:

Consumo de Petróleo

Alternativas de Energia

Um argumento frequentemente utilizado para justificar a manutenção dos elevados níveis de exploração e consumo de petróleo é que o desenvolvimento tecnológico futuro possibilitaria a substituição da matriz energética baseada na queima de petróleo por outra forma de geração de energia, mais eficiente e mais limpa. Tal argumentação dá como certo este desenvolvimento futuro, e portanto não vê como problema o esgotamento do petróleo nos próximos 50 ou 100 anos. Entretanto, não há justifica racional ou científica que suporte esta certeza.

Outras formas de geração de energia alternativas atualmente utilizadas são:

  • Energia Hidrelétrica: represamento de água de rios, aproveitando a energia potencial de grande massa de água quando liberada em um ponto mais abaixo que o nível de água da represa. Apresenta como vantagens o fato de ser um recurso renovável, não produz subprodutos e o custo de produção de energia é relativamente baixo. Desvantagens são o dano ambiental causado pelo alagamento de extensas áreas e poucas áreas restantes para implantação de novas usinas e barragens (apesar de no Brasil ainda haver algum potencial hidrelétrico sub-aproveitado, esta realidade não se reflete na grande maioria dos países)
  • Termo-elétrica a Carvão ou Gás Natural: assim como as termo-elétricas que utilizam o petróleo ou o gás natural para produção de energia elétrica, as termo-elétricas a carvão queimam recurso natural não renovável, poluente e a um relativamente alto custo de produção. Assim como petróleo, o carvão é também um recurso em esgotamento e portanto, a discussão sobre a substituição do petróleo poderia também ser extendida ao carvão e gás natural
  • Energia Nuclear: a produção de energia por fissão nuclear (quebra de átomos de urânio, plutônio ou tório enriquecido) conta com matéria prima relativamente abundante. Não se prevê escassez destes materiais num futuro próximo. Em compensação, os subprodutos desta forma de produção de energia são altamente poluentes, bastante nocivos à saúde humana e ao meio ambiente. Atualmente, tambores e conteineres revestidos com concreto são enterrados (ou foram jugados em oceano profundo), com previsão de continuarem com potencial de toxidade por mais de 200.000 anos
  • Biocombustíveis: tanto carvão vegetal, álcool, biodiesel, bagaço de cana, lenha, reaproveitamento de óleo de cozinha ou gordura animal ou qualquer resto de material biológico não fóssil seria categorizado como biocombustível. É alternativa importante, tendo papel relevante na matriz energética do Brasil e em crescimento em diversos países (Europa, EUA, Japão, etc.). Há potencial de melhor utilização destes biocombustíveis, em especial os restos vegetais e animais. Entretanto, no caso de álcool e biodiesel, deve-se ressaltar o uso extenso de outros recursos, como terra agricultável, água e mesmo energia, fazendo com que a utilização destes biocombustíveis tenha impactos econômicos que limitariam uma grande expansão em sua escala de produção
  • Energia Eólica: esta fonte de energia tem bom potencial, mas ainda hoje Energias Alternativasnão é economicamente competitiva contra o baixo custo do petróleo. Há impacto ambiental e humano, devido às vibrações, oscilações de luz, ruído e pressão nos entornos dos campos produtores. A disponibilidade desta fonte ainda é bastante grande, embora às vezes geograficamente afastada dos centros consumidores. Os investimentos necessários são também relevantes
  • Energia Solar: outra energia alternativa, com potencial para aquecimento e para geração de energia elétrica. A viabilidade para aquecimento de água e ambientes é comprovada, principalmente em países tropicais e equatoriais. Mas, para geração de energia elétrica, comparada aos custos do petróleo, a energia solar também não é economicamente viável

Assim, considerando as atuais oportunidades de geração de energia em substituição ao uso do petróleo, vemos que a alternativa economicamente mais viável é a continuidade do uso de energia hidrelétrica, carvão e biocombustíveis (na medida em que estes recursos estiverem disponíveis hoje e no futuro) e também energia nuclear (não desconsiderando o impacto ambiental importante dos resíduos nucleares).

As energias “limpas” não são viáveis como fontes de geração de energia em massa, pelo menos não comparativamente ao petróleo nos preços hoje praticados. E mesmo que o fossem, são alternativas de produção que exigem um espaço físico maior e uma localização definida por aspectos geográficos, podendo ser inviáveis para aplicação em algumas regiões do planeta.

Há uma possibilidade de desenvolvimento futuro bastante interessante, que seria a Fusão Nuclear. Na verdade, esta possibilidade seria mais do que interessante, seria maravilhosa. No entanto, o processo de fusão nuclear ainda não é controlado e portanto ainda não é utilizável para produção de energia. Na Fusão Nuclear, dois átomos de hidrogênio (abundante na natureza) se unem e formam um átomo de hélio (gás inerte). Neste processo uma enorme quantidade de energia é liberada, sem danos ao meio ambiente, sem subprodutos tóxicos. Talvez no futuro tenhamos um substituto valioso ao petróleo mas, até que se torne viável, segue sendo um “talvez”.

A conclusão que se chega em relação à disponibilidade de energia é que, embora não seja insubstituível, a falta do petróleo exigiria da sociedade humana uma mudança nos padrões de consumo (produtos e energia). Embora a quantificação destas mudanças não seja óbvia, é possível ao menos traçar um cenário aproximado para as atividades humanas num futuro sem a larga disponibilidade de petróleo.

Refino e uso do petróleo

Cenários para Energia – futuro

Como explicitado acima, há algumas alternativas ao petróleo para a produção de energia. Dependendo das evoluções tecnológicas e da propenção da sociedade humana em consumir mesmo às expensas da poluição e degradação do meio ambiente, três cenários se destacam para um horizonte de 50 a 100 anos:

Cenário 1 – a Fusão Nuclear demonstra-se viável como meio de produção de energia em massa – neste caso, a produção de energia barata e não poluente permitiria a substituição do petróleo como base da matriz energética, permitindo à humanidade a continuação e até mesmo uma ampliação dos padrões de consumo de energia da sociedade humana.

Este cenário, embora desejável, é incerto, uma vez que a tecnologia para tal modo de produção não é ainda disponível e não se sabe sequer se o será nas próximas décadas ou séculos.

Cenário 2 – a matriz energética mundial é substituída por energia nuclear e energias alternativas – neste cenário, a escassez de petróleo eleva seu custo de extração, causando a migração da matriz energética para outras formas de produção de energia em massa, em especial a fissão nuclear, carvão e biocombustíveis. Em virtude da escassez de áreas agricultáveis, possível escassez de carvão mineral, a fissão nuclear seria responsável por atender a maior parcela da energia demandada. Neste cenário, a produção de lixo nuclear aumentaria pelo menos 3 vezes e o custo de produção da energia também subiria, uma vez que a fonte de energia mais barata (petróleo) não estaria mais disponível. Estas mudanças exigiriam da sociedade humana alguma redução no consumo de energia, tanto para reduzir impacto ambiental quanto devido aos maiores custos relativos da produção de energia

Este cenário parece ser o mais provável nas próximas décadas, visto que a sociedade humana está pouco disposta a abrir mão do conforto e produtividade que a energia barata possibilita, mesmo havendo custos ambientais consideráveis. Entretanto, a degradação cumulativa das condições ambientais orientaria uma mudança lenta e gradativa (talvez no decorrer de séculos) para o cenário mais extremo, onde a sociedade demandaria formas de energia não poluentes (cenário 3), mesmo às expensas dos atuais padrões de conforto e consumo.

Cenário 3petróleo torna-se escasso, energia nuclear usada com restrições devido à poluição ambiental – neste cenário, os padrões de preservação ambiental (poluição) e os altos custos de produção de energia (meios alternativos – energia limpa) forçaria uma mudança radical nos padrões de consumo da sociedade. Os custos relativos de produção de energia seriam em alguns casos tão altos que inviabilizariam ou limitariam seriamente atividades hoje corriqueiras, como uso extensivo de carros, aviões, caminhões, aquecedores residenciais e industriais, consumo de embalagens e bens descartáveis, além do consumo de materiais com alta carga energética utilizada em sua fabricação

Este cenário, embora pareça improvável num primeiro momento (algumas décadas), deve ser seriamente considerado do ponto de vista de sociedade humana, uma vez que os níveis de degradação ambiental e aumento dos custos relativos de produção de energia tendem a aumentar se não forem desenvolvidas tecnologias mais eficientes e menos poluentes de geração de energia. E, do ponto de vista de sociedade humana, deveríamos considerar um horizonte de tempo não de 5 ou 20 anos, mas 500, 1000 anos (é utópico esperar engajamento da sociedade para garantia de condições de vida no planeta daqui 500 anos, mas não deveria ser. Deveria ser uma preocupação real).

Os dois primeiros cenários não exigiriam muita reflexão, uma vez que seria a continuidade dos padrões de comportamento que hoje se observa na sociedade. Os padrões de consumo e de degradação ambiental se manteriam, tendo que as consequencias ser tratadas no longo prazo. Na ocorrência do terceiro cenário, no entanto, em que as condições ambientais e os custos de produção de energia exigiriam da sociedade uma mudança significativa de comportamento, uma reflexão mais extensa se faz necessária (além de reflexão sobre este cenário, os próximos parágrafos servem para ilustrar o impacto do petróleo – e sua falta – no atual modo de vida, com consequencias diretas na economia e também na maneira como os assuntos econômicos são tratados nas esferas mais inflentes da nossa sociedade).

Influência do petróleo na sociedade atual

No cenário mais extremo apresentado acima, não haveria num curto e médio prazos (algumas décadas, talvez séculos) uma forma barata e eficiente de geração de energia para atender níveis de demanda semelhantes aos atuais. Imaginemos como seria então a vida sem o uso extensivo do petróleo – nesta condição, as seguintes atividades humanas seriam forçosamente transformadas:

  • Utilização de carro para ir e voltar do trabalho, passear, viajar – tanto carros pequenos e econômicos como grandes consumidores ternar-se-iam caros e inviáveis para a maioria das atividades hoje corriqueiras
  • Utilização irresponsável de meios de transporte como trens e navios – estes teriam que tornar-se mais leves e eficientes, mesmo que em detrimento de velocidade ou conforto
  • Utilização de aviões – as viagens de avião tornar-se-iam ainda mais caras e inviáveis que as de carro ou trem, sendo praticamente extintasDependência do Petróleo
  • Máquinas agrícolas e de transporte – o uso de máquinas agrícolas ou meios de transporte baseados no consumo de petróleo ficariam inviáveis ou elevariam o custo do produto final, exigindo da sociedade que criasse alternativas, como a volta do cultivo manual da terra e a produção de alimentos e produtos próximo aos centros de consumo (restrições ao comércio internacional e transportes de médias e longas distâncias)
  • Plásticos e petroquímicos – poderiam tornar-se inviáveis ou até mesmo desaparecerem por excassez de matéria prima; embalagens plásticas, produtos de plástico, petroquímicos industriais, asfalto precisariam ser substituídosou exigiriam mudanças no modo de vida, como reuso de embalagens
  • Produção industrial – métodos e processos industriais precisariam ser revistos e modificados, uma vez que tanto matérias primas quanto disponibilidade de energia tornariam alguns dos atuais processos inviáveis

O petróleo foi elemento essencial de aumento de produtividade obtida no último século, permitindo ao homem executar todas as tarefas que já eram antes comuns e muito mais. Permitiu ao homem um padrão de consumo muito além do imaginado no século XVIII, principalmente no que tange aos processos industriais e de transporte.

Entretanto, mesmo à luz dos destaques acima listados, a importância do petróleo na sociedade ainda é subestimada, e a relevância do petróleo na estrutura econômica (produtiva e financeira) o é ainda mais. Para entendermos a magnitude da influência do petróleo no nosso modo de vida, deveríamos imaginar como seria a vida sem petróleo. E, apesar de este mundo sem petróleo ser apenas um exercício mental, a disponibilidade de petróleo no mundo é efetivamente limitada e as estimativas são de talvez 30 ou 50 anos de abundância. A partir daí, a perspectiva de a sociedade ter que adequar-se a um modo de vida bastante diverso é real.

Portanto, por mais absurdo que possa parecer para o homem deste início de século, uma vida sem petróleo como a imaginada a seguir pode deixar de ser ficção já nas próximas gerações (as gerações de nossos filhos e netos). E o homem do século XXII pode vir a assemelhar-se ao homem do século XIX.

Sociedade sem petróleo

Sem petróleo, são várias as mudanças em nosso modo de vida, desde uso de materiais, disponibilidade de energia e meios de transporte. Todas elas acontecendo concomitantemente e exigindo da sociedade uma mudança talvez drástica de sua estrutura social e econômica.

  • Máquinas agrícolas seriam substituídas por pessoas trabalhando diretamente a terra, plantando, colhendo, arando. Talvez o cavalo e arado voltem a fazer parte da paisagem no campo. Restos de colheitas deixariam de ser queimados no campo, passando a ser usados como fertilizanteTransporte sem Petróleos ou como fonte de energia em queimadores
  • O transporte destes alimentos, bem como da maioria dos produtos e pessoas, voltaria a ser feito por carroças, bicicletas e cavalo. Haveria ainda trens e caminhões, mas apenas para transporte de produtos perecíveis e de alto valor agregado
  • Por necessidade de mão de obra na produção de alimentos poderia haver migração no sentido cidade-campo. Também pela dificuldade de transporte de alimentos do campo para as cidades, indústrias de processamento de alimentos seriam criadas próximas às regiões produtoras de alimento
  • Produtos derivados do petróleo, como fertilizantes, plásticos, óleos combustíveis e outros seriam virtualmente extintos, sendo substituídos por outros (muito provavelmente mais caros e menos nobres). Restos de culturas e criações, bem como lixo orgânico produzido pela população seria destinado a fertilização das fazendas, embalagens e produtos descartáveis não seriam mais tão comuns
  • Materiais que demandam uso intensivo de petróleo, como alumínio, aço inoxidável, extração de minérios e produtos produzidos longe de seus centros consumidores se tornariam caros e quase inviáveis. Mesmo outros materiais, teóricamente não tão dependentes do petróleo como papel, vidro, metais, madeira, tijolos, cimento, tecidos e outros seriam afetados pelas dificuldades de transporte e produção, podendo tornar-se relativamente mais caros e até mesmo inviáveis
  • A dificuldade de obtenção destes materiais aumentaria a necessidade de reciclagem de materiais
  • Gás natural, proveniente dos lixões comuns em nossa sociedade atual, passaria a ser aproveitado, bem como o gás proveniente de biodigestores (tratamento de esgoto, muito comum nas fazendas de criação de porcos, mas aplicável também para tratamento de esgoto doméstico)
  • Grandes áreas seriam ocupadas por florestas comerciais, produzindo madeira e carvão para sustentar atividades que demandam grande quantidade de calor
  • Pela dificuldade dos meios de transporte, haveria um relativo retorno a pequenas comunidades, vilas.
  • Transporte por avião seria extremamente restrito
  • Transporte por navio passaria a ser impulsionado através de reator nuclear. Tanto carga quanto passageiros que tivessem que ser transportadas entre continentes seriam transportados nestes navios
  • Confortos como ar-condicionado, geladeiras, chuveiro elétrico, aquecedor residencial tornar-se-iam menos acessíveis, talvez até raros
  • O consumo de petróleo passaria a ser símbolo de status social, ainda mais do que hoje representa a posse de um veículo de luxo

O cenário exposto acima nos remete, em muitos aspectos, a uma vida semelhante ao século XIX e início do século XX no que tange ao modo de vida e às limitações e dificuldades na execução das atividades cotidianas. Em alguns aspectos seriam exigidas atitudes ainda mais austeras e responsáveis do que naquela época. Por outro lado, o conhecimento técnico e a disponibilidade de novas tecnologias permitiria uma economia mais eficiente e racional, especialmente em relação às comunicações e capacidade de processamento matemático e recursos de engenharia.

Como pôde ser observado acima, a vida cotidiana das pessoas é profundamente afetada pela disponibilidade de petróleo.

Como a disponibilidade tende a diminuir drasticamente nos próximos 30 a 50 anos, por princípio ético, deveríamos antecipar algumas mudanças em nos nossos hábitos para garantir às gerações futuras a disponibilidade deste valioso recurso para fins mais nobres. Atitudes que deveríamos mudar: uso de carros grandes ou pouco eficientes, usados mesmo desnecessariamente; uso frequente de aviões; consumo exagerado de energia elétrica; uso massivo de embalagens plásticas descartáveis; desperdício / substituição de produtos e materiais; não reciclagem dos materiais.

Entretanto, não basta o cidadão consciente e ético mudar suas atitudes. Há uma mensagem clara (tão clara que talvez não percebida) sendo constantemente passada para os cidadãos, que os direciona contrariamente a este senso de preservação e economia. Esta mensagem é a estimulação econômica ao consumo (inclusive consumo de petróleo), subsidiada pelas teorias de Keynes e seguida por todas as economias no mundo. Esta estimulação da economia e do consumo de petróleo será tratada mais abaixo.

Implicações Econômicas

As implicações indiretas do petróleo na política econômica e no modelo de economia adotado no mundo inteiro (Keynes) podem não ser óbvias, mas muitíssimo relevantes, extendendo-se além da mudança no modo de vida dos indivíduos (como ilustrado acima). São implicações que, apesar de imensamente relevantes, são provavelmente abstratas para o leitor e para o cidadão comum, habituado ao funcionamento cotidiano de nossa sociedade. Talvez fossem mais facilmente percebidas por um eremita do Nepal ou por um viajante no tempo, vindo do século XVIII. Isto porque, uma vez que estamos vinculados ao modo de vida de nossa sociedade atual, atitudes que de outra maneira seriam absurdas tornam-se tão corriqueiras que sequer percebemos suas consequencias e implicações. Assim, para melhor entendimento das implicações econômicas do petróleo na economia, recomendo ao leitor postar-se isento dos hábitos e práticas econômicas de nossa sociedade atual, para poder observar num ambiente macro a larga influência que o petróleo permite na dinâmica do sistema econômico e monetário.

A adoção do modelo Keynesiano, hoje seguido por quase todos os países, governos e até por uma imensa parcela dos economistas e da mídia, fundamenta-se na contínua estimulação da economia, mantendo assim práticas de produção, comércio e consumo que de outra maneira mostrar-se-iam insustentáveis e seriam descontinuadas (ou seja, alguns produtos, modelos de negócios e aplicações financeiras se mostrariam ineficientes ou até mesmo inviáveis, e portanto seriam mais extintos). Assim, a estimulação (hiperestimulação) da economia, que causa distorções de mercado tanto na área de produção, comércio, consumo e alocação de recursos, é inerente e base para o sistema econômico adotado (### link para modelo de economia keynesiano – estimulação – inflação e deflação).

E onde entra o Petróleo nesta estória?

Como descrito acima, o lucro (ou vantagens) que as instituições financeiras e políticas que dominam a criação de dinheiro e cobrança de impostos (indiretamente as pessoas que as dirigem) têm sobre a sociedade é advindo da criação de dinheiro e crédito (o que por consequencia causa inflação de preços), que é contrabalanceada pela deflação nos custos de produção na sociedade. O petróleo entra como um fator importante para os custos em toda a cadeia de produção, incluindo produtos petroquímicos, energia, transportes e todos os seus demais usos. Assim, se o preço do petróleo subir, toda a cadeia de custos sobe. Nesta condição, se a política monetária de criação de dinheiro e crédito permanecer, aliada ao aumento dos custos de produção, a inflação de preços e a transferência de riqueza da sociedade para governos e instituições financeiras torna-se mais evidente e reduz a margem de manobra para manutenção do sistema financeiro como está.

Ou seja, o sistema financeiro depende (ou pelo menos se beneficia largamente) de baixos custos de produção, sendo o custo do petróleo fator dos mais importantes nesta cadeia, inclusive porque seu preço influencia diretamente os custos de outras matérias primas, como alimentos, minérios, energia e transportes.

Sendo toda esta discussão sobre transferência de riqueza baseada no baixo preço do petróleo, pode surgir uma questão (muito pertinente): O preço do petróleo é baixo? Ou é alto? Como medir?Preço do Petróleo

Preço do Petróleo

Considerando a grande importância do petróleo na sociedade moderna, o grande impacto que tem sobre toda a cadeia produtiva e suas reservas limitadas, tendo horizonte de disponibilidade de talvez 50 anos, imagina-se que o preço do petróleo deveria ser alto. Tudo favorece um alto preço do petróleo. Ou, visto de outra maneira, o estes fatores de estabelecem o preço de mercado para o petróleo. Estes fatores definem o preço real do petróleo, da mesma maneira que é definido o preço de qualquer outro produto – por condições de mercado; o mercado analisa toda questão de disponibilidade, raridade, usos e estabelece o preço de equilíbrio (em outras palavras, lei da oferta e procura). Portanto, este seria não um preço alto nem baixo, mas simplesmente o preço justo, definido pela interação de todos os agentes da sociedade.

Entretanto, questões políticas e monetárias causam distorções em relação ao preço estabelecido por equilíbrio de mercado. E tais distorções refletem diretamente na economia, tal a dependência da economia atual em relação ao petróleo.Distorções do preço do Petróleo

Estas interferências forçam a redução do preço em relação ao preço que seria praticado pelo livre mercado. O preço do petróleo artificialmente baixo favorece um aumento artificial da eficiência da economia produtiva, pois qualquer produto ou produção que utilize o petróleo torna-se artificialmente barato; ou seja, as indústrias, comércios e até os consumidores adquirem uma eficiência de custo em suas atividades que de outra maneira não teriam. Este aumento artificial de eficiência “beneficia” a sociedade num curto prazo, permitindo um maior poder de consumo (uma vez que tudo fica mais eficiente e portanto mais barato). No longo prazo, entretanto, o consumo acelerado de petróleo deve gerar escassez, precipitando o aumento do preço do petróleo e a redução drástica da eficiência do sistema econômico. Ou seja, apesar das vantagens de curto prazo de que desfruta a sociedade, as consequencias negativas no longo prazo são largamente mais relevantes.

Os grandes beneficiados da política de petróleo barato são os governos e bancos que, conforme explicado anteriormente, são favorecidos pela diferença entre os preços de produtos crescentes (inflação) e o aumento de produtividade da economia (que gera deflação de preços). A margem de manobra de sua política monetária inflacionária é aumentada

A orientação para o consumo excessivo de petróleo atende perfeitamente os interesses dos grupos financeiros e políticos que controlam o Estado e o sistema financeiro. A população, não entendendo os pilares de funcionamento da economia e do sistema financeiro, aceita as vantagens de curto prazo (como baixo custo do petróleo e sua cadeia de subprodutos), sem no entanto perceber as consequências de longo prazo, como altos preços futuros do petróleo e subprodutos, além dos custos decorrentes do endividamento do Estado.

As questões políticas que afetam o preço do petróleo, descritas abaixo, são até certo ponto óbvias, mas como as consequencias não são claras para nossa sociedade, influenciando até na transferência de riqueza, estas informações são subestimadas e até mesmo desconsideradas da vida cotidiana das pessoas. Algumas destas questões políticas que influenciam o preço do petróleo são:

  • Interferência no mercado: Os EUA, com Richard Nixxon, desde que abandonaram o padrão-ouro em 1971, forçaram os países produtores a continuarem negociando petróleo em dólares, ou seja, o dólar foi forçado como moeda de troca e de reserva para todo o restante do mundo. Ao mesmo tempo em que os EUA garantiam suprimento ilimitado de petróleo, forçavam uma valorização do dólar, exatamente por ser moeda única nas transações de petróleo e de muitos outros mercados. Sendo o petróleo demandado por todas as economias do século XX e XXI, ficou estabelecida hegemonia do dólar. A imposição de cotas de extração de petróleo, ainda que negociadas com a OPEP, é também outra forma de interferência no mercado.Intervenção Militar
  • Interferência militar: As interferências de mercado somente são efetivas devido à supremacia militar dos EUA. Nos últimos 50 anos diversas guerras e intervenções militares foram executadas contra países produtores de petróleo. Guerra Irã-Iraque, na década de 80, guerra do Iraque-Kwait na década de 90 e finalmente a guerra do Iraque na década de 2000 (http://www.ratical.org/ratville/CAH/RRiraqWar.html). Além desta e de outras guerras efetivamente ocorridas, presume-se a que a simples possibilidade de intervenção, com sua supremacia bélica, serve como ameaça suficiente para garantir a submissão dos demais países a ampla distorção de mercado.
  • Interferência política: Concessões e direitos garantem às empresas neste ramo lucros bastante elevados, desde que os interesses dos governos e seus beneficiários sejam atendidos. Entretanto, como na interferência do governo da Venezuela há poucos anos sobre empresas de petróleo ali instaladas, a possibilidade de interferência dos governos nestas empresas (expropriação de instalações, de concessões e de direitos de exploração e refino de petróleo) existe e é real. Pode-se argumentar que o governo Venezuelano é excessão, um governo pró-socialista. Mas, muito mais do que a posição populista do governo Venezuelano, o fator que verdeiramente derivou as expropriações foi a fragilidade econômica do país. Sendo que a deterioração da saúde econômica se extende em maior ou menor grau por todas as principais economias do mundo (http://mboczko.wordpress.com/2010/03/19/diferencas-entre-governos/), pode-se esperar ações similares quando outras economias atingirem um grau de fragilidade semelhante ao que atingiu a Venezuela. Olhando friamente, criticamente, não seria tão estranho mesmo em países como Brasil ou EUA que algumas concessões fossem retiradas, sob argumentações diversas como “pré-sal”, “risco ambiental”, “incapacidade técnica-gerencial”. Além disto, houvesse uma empresa que resolvesse poupar reservas prevendo uma escassez futura, a mídia e os governos logo a chamariam de “especuladora” e as concessões e direitos seriam prontamente revogados. Outras empresas, mais dispostas à satisfazer a sede dos governos e da sociedade por petróleo, assumiriam a responsabilidade com prazer (portanto, as empresas escolhidas para a lucrativa responsabilidade de extrair petróleo seriam justamente as apadrinhadas por vantagens obtidas junto aos governos, atendendo perfeitamente as suas expectativas). Sem poupar as reservas, os exploradores de petróleo tentam antecipar a exploração o máximo possível, antes de que alguma regra do jogo seja mudada e os grandes lucros e vantagens acabem.

Nos três casos mostrados acima, os governos e principais agentes financeiros interferem no mercado de petróleo coercivamente, ou seja, o direito adquirido e as condições de igualdade de direitos são desrespeitados em favor de interesses do governo e empresas por ele apadrinhadas. Atende também à vontade popular de curto prazo.

Sendo a violação de direitos uma prática comum e esperada contra países e empresas que não atendam as espectativas e vontades dos governos e agentes econômicos a eles relacionados, é de se esperar que os principais países e empresas ligadas à extração de petróleo coloquem-se em posição submissa aos governos de seus países ou aos governos dos poderosos países consumidores. Gera-se assim um forte desequilíbrio de mercado em favor dos consumidores.

Este desequilíbrio é tão forte que questões como a escassez futura do petróleo tornam-se irrelevantes. O simples não atendimento das vontades momentâneas de um governo nacional ou Extração de Petróleoestrangeiro pode representar o encerramento completo de operações de uma empresa em menos de um ano, ou o início de uma guerra que pode destituir o governo vigente. Não há portanto por que considerar problemas de longo prazo, por maiores que estes possam ser.

O reflexo deste desequilíbrio é que as empresas relacionadas a extração de petróleo e mesmo países exportadores atuam agressivamente em relação à extração de petróleo, sem preocupações de poupar reservas ou de eficiência energética ou ambiental neste processo. O fator predominante é a velocidade de extração. Eficiência desta extração, dos processos de refino, segurança ambiental e mesmo pesquisas de longo prazo tornam-se conceitos secundários.

Apenas para sintetizar a argumentação anterior, segue lista dos fatores que influenciam o preço do petróleo:

  • Usos do petróleo (demanda): combustível, petroquímicos, plásticos, aquecimento, energia elétrica
  • Custos de exploração: custos de detecção, exploração, transporte e refino
  • Disponibilidade de reservas: apesar de hoje não haver, a perspectiva é de escassez em futuro próximo
  • Interferências de mercado: cotas de exploração, controle de mercados e hegemonia do dólar
  • Interferências militares: intervenções militares (guerras e golpes de estado)
  • Interferências políticas e de direito: concessões de cunho político, expropriação de instalações e de direitos

Destes fatores, os três primeiros são característicos de livre mercado, em que a demanda e a oferta determinariam o preço de equilíbrio. Entretanto, quando acrescidas as interferências coercivas dos governos, cria-se uma “oferta forçada” de petróleo no mercado, fazendo com que o preço caia fortemente, o que aumenta artificialmente a produtividade do sistema econômico no curto prazo, em detrimento do longo prazo.

Em paralelo, o baixo preço do petróleo gera também no lado consumidor distorções significativas. O baixo preço do petróleo faz com que a sociedade entenda que consumir petróleo é algo corriqueiro e sem graves consequencias futuras (preço não mais funciona cConsumo de Petróleoomo mecanismo punitivo ao consumo exagerado). Basta ver o grande número de veículos que circulam nas cidades e estradas, em detrimento de formas de transporte mais eficientes como trens e bicicletas; uso de chuveiro elétrico, mesmo com a grande disponibilidade de energia solar; transporte de cargas é feito por meios ineficientes, com enorme quantidade de caminhões trafegando trajetos de milhares de quilometros, sendo que transportes desta envergadura seriam muito mais eficientemente executados por navios ou trens.

Em resumo, o baixo preço do petróleo gera desperdício de petróleo e, apesar da alta eficiência aparente da economia no curto prazo, a eficiência real dos processos é baixa, quando considerados os efeitos de longo prazo.

Em contraposição ao baixo preço do petróleo, os governos cobram impostos sobre toda cadeia produtiva do petróleo. Numa primeira vista parece contraditório, uma vez que há interesses muito fortes para que sejam garantidos baixos preços do petróleo. Mas, se for considerado o interesse principal dos governos que é arrecadar riqueza da sociedade (http://mboczko.wordpress.com/2010/04/21/funcoes-do-governo/), cria-se um ponto de equilíbrio vantajoso para o governo entre o petróleo em baixo custo e a arrecadação de impostos. Além disto, se não fossem cobrados impostos e o preço do petróleo ao consumidor fosse irrisório, não seria aumentada a produtividade de curto prazo da economia; aumentaria apenas o desperdício e o mau uso, com redução da arrecadação de impostos. Percebe-se que com o mercado forçado a baixar preço do petróleo, o Estado pode aumentar a arrecadação sem abrir mão dos efeitos de estimulação da economia que são obtidos com o baixo preço final do petróleo.

O preço é o mecanismo de mercado que orienta as escolhas das pessoas em busca de máxima eficiência e quando este mecanismo é distorcido, os consumidores e a sociedade perdem a referência para a tomada consciente e racional de decisões. E assim, consumimos um bem precioso em motores V8, carros de 3 toneladas, muitas vezes para fins que sequer se justificam. Consumimos maior quantidade de embalagens do que alimentos, nos acostumamos a um padrão de consumo excessivo de energia e produtos, sem mesmo considerar que o petróleo já dá sinais de esgotamento.

Como é bastante forte na nossa cultura a correlação entre riqueza e capacidade de consumo, os indivíduos em nossa sociedade contemporânea sentem-se ricos em função do aumento da capacidade de consumo que a disponibilidade de petróleo a baixo custo permite, o que fomenta no indivíduo um consumo ainda maior.Prejuízo Ambiental

Como se não bastassem os efeitos econômicos do consumo excessivo de petróleo na nossa sociedade, percebe-se também piora na qualidade de vida, devido à degradação ambiental (emissões de gases, vazamentos de petróleo e subprodutos, grandes áreas dedicadas a estradas e vias de transito), além de mudanças não saudáveis no modo de vida das pessoas (uso de carros em substituição a exercício físico de caminhar ou ir de bicicleta, consumismo exagerado fomentado por um baixo custo de produtos, consequencia das distorções no preço do petróleo).

Em resumo, seria inteligente do ponto de vista de sociedade que o petróleo fosse poupado (e a natureza do mercado se encarregaria de definir os usos que a sociedade considera racionais para este recurso em vias de esgotamento). Não houvessem interferências coercivas no mercado, o petróleo seria usado mais racionalmente, prevendo um aumento dos preços futuros. Mas, há interesses para que este petróleo seja consumido hoje (permite prolongamento dos hiperestímulos) – os governos, dependentes e fomentadores dos hiperestímulos, não podem abrir mão de antecipar a exploração e consumo do petróleo.

Conclusões

Hoje o petróleo pode ser um recurso relativamente abundante, com custo de exploração relativamente baixo. Entretanto, considerando que a disponibilidade deste recurso natural não renovável é suficiente para atender apenas os próximos 30 a 50 anos, e que as alternativas para produção de energia e produtos têm grandes inconvenientes e custos de produção elevados, a sociedade humana deveria considerar uso moderado e racional, alterar o padrão de consumo petróleo e de outros produtos.

Esta disponibilidade do petróleo a baixo custo permite um luxo que o homem do século XVIII nem imaginava e que talvez o homem do século XXII se ressinta de não mais ter. Entretanto, analisando-se a vida do homem do século XVIII e do século XX, percebe-se pouca diferença em termos de riqueza em si. Percebe-se hoje maior conforto e facilidade de transporte e obtenção de produtos e alimentos, muito em decorrência da disponibilidade de petróleo. Em contraposição, as condições ambientais deterioraram-se sensivelmente. Percebe-se hoje também uma menor preocupação com disperdício, uso eficiente e preservação dos recursos físicos e naturais.

Embora talvez não seja uma preocupação para nossas vidas, deveria ser.Mundo e Petróleo Isto se nos preocupamos minimamente com o futuro de nossos filhos e netos – tanto quanto temos preocupação de deixar-lhes uma casa para morar ou algum recurso em dinheiro, a disponibilidade de petróleo é parte da herança que receberão nossos filhos e netos; nossa contribuição para a humanidade está em jogo. Para consideração: é razoável arriscarmos a condição de vida das gerações futuras por conta das extravagâncias que hoje cometemos?

Infelizmente, mesmo que haja uma maior conscientização individual sobre a necessidade de reduzir o consumo, uma mensagem contrária muito mais forte é continuamente reforçada: o preço. É, efetivamente, uma aplicação indireta da máxima Keynesiana de estimular o consumo para manter o crescimento (apesar de contraditória, é a visão preponderante nas nossas faculdades de economia ao redor do mundo).

Com a estimulação da economia, alta produção e consumo, maior eficiência imediata da economia, os bancos e governos ganham espaço para aumentar a expansão monetária e o endividamento público, o que atende os anseios de curto prazo tanto de bancos, políticos e sociedade, deixando para o futuro uma dívida governamental e recursos mal investidos, tanto no setor público como privado (chegando ao ponto de desperdício, como o grande e visível desperdício de petróleo). Esta conta futura não será cobrada de banqueiros e políticos, que já terão consumido ou desviado os bens extraídos deste esquema; será paga através do Estado, que arrecadará de seus cidadãos (confiscos de poupança, remuneração de títulos de dívida e poupança menores que a inflação real, maiores impostos e finalmente pela pura e simples criação de dinheiro – que gera vantagens prioritariamente para os próprios banqueiros).

O petróleo permite aos governos a manutenção deste sistema, dá à sociedade a falsa ilusão de riqueza, enquanto a verdadeira riqueza é continuamente drenada em favor de poucos, invariavelmente aliados dos governos.

Algo que não foi debatido neste artigo mas que deve também ser considerado é que todos os conceitos aplicados ao petróleo aplicam-se igualmente a minérios e aind outros recursos naturais utilizados pelo homem. Obviamente, como há peculiaridades para cada tipo de recurso, estrutura de extração e mercado, a atuação dos governos também varia; mas também está claramente presente. Políticas de extração de minérios, madeira, usos do solo, água, etc, quase nunca orientados por aspectos técnicos e econômicos mas sim políticos. Claro, devido à importância muito maior do petróleo em relação a outros recursos naturais, as ações dos governos sobre ele são muito mais abrangentes e agressivas.

Writen by: Ângelo S. Arkell

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